quinta-feira, 12 de novembro de 2009

DEVANEIO nº 5 - Em defesa da arte e da boa música


Na procura incessante por algo “novo” desprezamos tudo aquilo que já possuímos de bom.
Um ídolo nem sempre é um artista. Assim como na maioria das vezes um verdadeiro artista não é um ídolo. Nem sempre o verdadeiro artista é o ícone do momento. Nem sempre ele toca nas rádios a todo o momento, aparece na TV a toda hora ou vende milhões de discos.
Passei a pensar em tudo isso a partir de uma experiência muito particular, mas passível de generalizações.
Há poucas semanas me deparei com um vídeo, na internet, da cantora Ângela Ro Ro. A partir de então parece que todo o conceito musical que eu tinha foi pelas águas. Ou teria ele começado a ser construído naquele momento? Fiquei inconformada de não tê-la “descoberto” antes.
Sua voz forte e rouca, mas ao mesmo tempo branda e doce, é inigualável. Sua poesia é tocante. Sua musicalidade é contagiante. E sua sinceridade musical é de emocionar. Presença de palco? Ela se basta!
Prestes a completar 60 anos de idade e 30 anos de carreira, por onde anda Ro Ro?
O “desaparecimento” de Ângela Ro Ro é decorrente do preconceito da industria cultural dos anos 90. Da memória curta dos brasileiros. E de uma imprensa falida e rendida à lógica da poesia sem rima; das letras sem conteúdo; e dos ritmos desordenados. Mas com um objetivo muito claro: A venda! O lucro! Ainda que a conseqüência seja o aniquilamento cultural de quem consome. Talvez seja esse o objetivo real...
Ângela Ro Ro é uma, dentre os vários artistas, que teve sua arte obscurecida. Sofreu ainda o preconceito daqueles que confundem vida pessoal com trabalho. E fizeram da vida dela um motivo para espiarem sua arte e, porque não dizer, “boicota-la”.
Maysa, Cazuza, Elis e muitos outros foram ícones dos anos 70 e 80 que viram suas carreiras se esvair com a vida. Ou a vida ser tomada pela carreira? Quem sabe? Destes, entre a vida e a arte (que é imortal) ficamos com a última. E disso nos orgulhamos.
Ro Ro, artista contemporânea de todos estes, é do tipo que fez (e faz) tudo o que pôde e quis. Nunca escondeu suas atitudes, paixões e posicionamentos. Mas, ao contrario daqueles, preservou sua vida. Cabe a nós preservarmos sua arte!
As composições de Ângela fazem transparecer, a cada época, o seu Ser em cada canção. É emocionante perceber o artista naquilo que ele faz.
Sobre isto, para ficarmos com apenas duas musicas, dentre as muitas de Ângela – que tem como maior sucesso a fenomenal “Amor, meu grande amor” – destacamos, de 1980 “Meu mal é a birita”, em que a cantora revela toda sua fragilidade diante do vicio; e, mais recentemente, “Boemia do sono”, na qual mostra a superação do mesmo.
Não é nossa intenção e certamente não é a de Ro Ro fazer apologia valorativa a nenhuma opção de conduta de vida. Esta foi mais uma de Suas opções. A cima de tudo é uma grande defensora da VIDA!
Queremos sim, é revelar a arte escondida de Ângela Ro Ro.
Queremos sim, denunciar o abandono cultural a que renegamos nossos artistas.
Queremos sim, alertar a todos para o que têm chamando de “novo” por ai. E sob quais argumentos descartam o que acham obsoleto.
Fica o recado e a denuncia, assim como a dica: “Ouçam Ângela RoRo” – certamente ficarão emocionados e entenderão um pouco mais o que talvez estas linhas não foram suficientemente capazes de externar.

“Dou o que preciso sem querer resposta, trata-se de apenas uma aposta entre eu e meu destino (...) Tenho pois que ser forte e serei. Aliada ao tempo, vencerei os males do mundo, só”. – Ângela Ro Ro

2 comentários:

  1. Gostei do texto, muito bem escrito. Carla, no Rio, a Roro não está sumida muito menos fora da mídia. Inclusive, ano passado ela fez um show no Canecão, casa muito bem conceituada.Lançou CD novo, DVD (2007), o que não é pouco prá quem vem recomeçando.Sou super fã, como diria a Marron, de carteirinha, acompanho a carreira dela bem de perto (temos amigos comuns), e posso ter afirmar que pertodo que ela já esteve (no abandono completo), ela está muito bem. Muito legal você tê-la descoberto, e sua preocupação com ela. Coisas mesmo de fã. Beijo grande.

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  2. Olá, Lúcia.
    Muito obrigada.
    Mas, eu acho que aí está realemnet um pouco do problema: ela estar só no Rio, sabe?
    Ela é muito pra ficar só aí. Acredito que outras pessoas tambem ficariam entantadas com ela se tivesse a oportunidade de conhece-la.
    Mas, já a valendo...
    Abraços...

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