sábado, 26 de dezembro de 2009

DEVANEIO nº 9 - O Corpo (familiar)

Há poucas semanas ouvia uma pequena “discussão” conjugal de um casal de amigos sobre as “obrigações” natalinas entre as famílias, ou o então chamado Corpo. A necessidade da (re)união. Da presença. Da festa e dos ritos que esta época do ano nos impõe.
Naquele dia (o da “discussão”) fiquei um pouco calada. Na verdade refletindo sobre minhas preferências. Gosto ou não de estar com O Corpo?
Como eu disse aos presentes da noite: “meu Corpo é bem pequeno, não se interfere muito em minha vida e não tira minha liberdade”. Este que era o argumento principal dos que rejeitava os seus.
Agora, já faz uma semana que voltei para casa de minha mãe para passar as férias e em alguns instantes me pego pensando sobre minha relação com Meu Corpo. Acho, sim, que ele me traz estabilidade e as representações e recordações de minha infância refletem muito em tudo isso.
Ontem foi noite de Natal. (Aliás, espero que todos tenham tido um Bom Natal!).
Fui com "meu Corpinho" (mãe e irmã) passar a Ceia na casa de alguns amigos.
E veja como é nosso instinto, meu caro Zé, se nosso Corpo é pequeno procuramos o de outros...rs..
Até a meia-noite estava tudo um pouco morno (menos minha fiel escudeira, “loira gelada”). Mas, após o estouro da champagne, ao primeiro que puxou o violão e dedilhou um “modão” eu juntei minha cadeira e soltei o gogó, aos velhos moldes da mais autêntica menina do interior. Neste momento me esqueci de Marx, ou do recém estudado, Schumpeter. Esqueci-me até mesmo das minhas mais recentes descobertas da MPB.
Esqueci, enfim, da intelectualidade que tenta aflorar em mim para deixar falar a minha essência; para minha I-DEN-TI-DA-DE transcender.
Uma coisa, porém, não podemos negar: Natal é sempre Natal.
Vai-se ao mercado com o Corpo comprar os ingredientes para a Ceia. E os brasileiros são impressionantes: vão todos juntos e de ultima hora.
Come-se e bebe-se um monte.
No outro dia no almoço a famosa comida japonesa: Yakisobra!
À tarde todos dormem, pois à noite é preciso se reunir novamente.
Agora, todos na sala para a atração gratuita que se repete a exatos 35 anos na Rede Globo.
A noite de 25 de Dezembro há mais de três décadas é coroada pelas canções de Roberto Carlos. “Outra Vez” ele vem com o “Eu te Proponho” convidar-nos para os “Detalhes” da “Estrada de Santos” que nos leva sempre “Além do Horizonte” a comemorar o aniversario de “Jesus Cristo”.
Em 35 anos pouco mudou. O cantor é o mesmo. As canções também. E assim o são o velho Wanderlei no piano e Eduardo Lajes na regência.
O que muda sempre é a roupa do Rei. No entanto, não muito. Apenas o modelo e o tom, pois há poucas variações nas cores restritas entre o branco e o azul.
Porém, Roberto não deixa de surpreender.
Infelizmente, neste ano me causou certo espanto.
Já faz um tempo que ele tem dado espaço para que As Globais “soltem” a voz ao seu lado. Assim como convidado os sertanejos para sua companhia.
Mas, vamos combinar que Dna. Norminha ao som de Calcinha Preta foi demais. Principalmente por contrastar com a multi-talentosa Ana Carolina.
O show terminou há pouco mais de uma hora. Com o gostinho de sempre mais um Natal passou. E este ano nem bebi champagne (a tradicional Ceresér que não falta nas festas do Corpo).
Vamos agora aguardar a virada de mais um ano.
Passarei na companhia de amigos muito especiais. A expectativa está bem grande para a festa, assim como para o que 2010 promete!
A primeira semana do ano vindouro terá como paisagem a minha querida Terra da Garoa. Pretendo me esbaldar de cultura, cerveja e energia.
O Ano Novo trará alem das eleições presidenciais os desafios do meu último ano de faculdade.
Finalmente: Cientista Social.
Antes disso tudo, porém, neste domingo não percam “2 Filhos de Francisco” na TV e na segunda-feira à noite, “O Diabo Veste Prada”. Ótima indicação de um grande amigo.

Everybody want to be us!

PS: Feliz Ano Novo a todos! Muita paz, amor, saúde e tranquilidade de espirito!

Voltarei em Janeiro com novidades da viagem e do que mais me fizer "devaniar"


segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

DEVANEIO nº8 - A superinflação dos panetones

Passado o efeito de tanta musicalidade, vou mudar o foco e comentar um pouco os fatos que borbulharam na TV durante a semana que passou.
Brasília é o assunto.
Brasília, sempre Brasília!
Cidade prometida... planejada... oasis do planalto central.
Mas o que dizer do Planalto Nacional?
O que dizer dos últimos ocorridos do Distrito Federal?
Mais uma vez nossos políticos brincando com nosso dinheiro; brincando com o poder; zombando da (e na) nossa cara!
A gravidade da situação é um fato! Mas, por que nos sentimos de mãos atadas como se tudo fosse alheio a nós, quando na verdade toda essa palhaçada nos afeta diretamente?
Onde estão os recursos da saúde? Onde estão os investimentos para educação? Onde aplicam os juros exorbitantes? Pra onde vão nossos impostos?
Vão para os bolsos, meias e cuecas daqueles para os quais demos nosso voto de confiança.
Voto este que no Brasil vale como a senha dos nossos cofres. Sofremos por eles um assalto constante e concedido.
Este escândalo não foi o primeiro e nem será o ultimo se não mudarmos nossa postura avaliativa dos fatos.
Tá certo que nosso sistema político aos moldes Schumpeteriano não é o mais eficaz. E não é mesmo. Aliás, está longe de ser...
Durante mais de 20 anos este país sofreu os pesares de um regime autoritário. E há quase 30 reconquistamos a “democracia”.
O problema é que ainda não a colocamos pra funcionar. Não absorvemos seus valores, quiçá temos um consenso do que ela significa realmente.
Saída?
Para os marxistas: a Revolução.
Para alguns outros críticos: contestar e participar.
E para a maioria de nós acomodados: resta-nos votar.
Votar? Em quem?
À parte todas as criticas à Democracia, uma grande vantagem que temos é certa liberdade. Liberdade de voto, inclusive.
E por que continuamos errando?
Tudo bem, também, que o santo não traz a estrela na testa. Mas por que quando temos ciência dos capetinhas tornamos a reelegê-los?
Haja vista os episódios mensaleiros de 2005 e o resultado das eleições em 2006.
After all”, estão lá no Congresso figuras como Palocci, José Genoino, João Paulo, Maluf e Collor.
Collor, meus amigos!!!
Isso para ficarmos com os nomes mais conhecidos.
2010 está chegando e em outubro seremos convocados a exercer “A” Cidadania.
O exercício de ser cidadão, porém, é muito mais que a ação do voto.
E por falar em 2010, por que não falar de “Lula, o filho do Brasil”?
Todos sabem de minha preferência partidária, e não acho isto problemático. Ser petista não é defeito. Vergonhoso é ser passivo e a-critico.
Por exemplo, esta história do filme do Lula me parece estranha por um aspecto especifico. Nem tanto o fato de seu lançamento em ano eleitoral, por que ainda que nosso “presida” seja carismático, não sei se tem força para transferir sua popularidade para a Dilma.
Aliás, as plásticas às quais ela se submeteu não a tornou mais querida.
Pois bem!
O que me espanta mesmo é como a exibição do filme será usada no Nordeste.
Nordeste, sempre o Nordeste!
Convites mais baratos para os nordestinos?
E por que este surto de “difusão” cultural só agora? Só com este filme? Só neste momento?
Muito estranho.
De qualquer forma que venha a biografia “Do Cara”!
Só pra constar, vai ter Zezé na trilha sonora.
Por falar em Zezé, só pra encerrar o assunto (aproveitando o gancho e o post), a voz tá melhorando, mas as roupas que ele tem usado. Sem comentários.
Outra coisa, me parece que ele anda com crise de consciência...distribuindo casas e até pianos às "promessas" culturais da país. Viram o último Fantástico?
Será que ele está aspirando algo em 2010 também. Ai Jesus!!!
Prestem atenção...

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

DEVANEIO nº 7 - "felicidade tamanha conjuga o verbo Cantar" ²

Perdoem-me amigos e caros leitores (se é que vocês realmente existem) por certa demora em trazer-lhes novidades.
Finalmente a ansiedade acabou!
No último sábado fui prestigiar meu amigo Eduardo Montagnari, no lançamento de seu CD, como anunciei no post abaixo.
Não lhes trouxe noticias com a mesma velocidade dos grandes meios de comunicação, primeiro por que, apesar de adepta à internet, precisava cuidar das palavras que vos traria. E, depois, por que a Boemia e o trabalho de fiscal no Vestibular da UEM no domingo me impediram.

Pois bem! Vamos ao show!

Simplesmente, “rolei, roleta russa...”.

Na batida certeira da batera, com os braços ao alto e a voz vibrante, foi assim que Eduardo deu inicio à sua apresentação.
Acompanhado por um teclado, um baixo, a batera, a alternância entra a ousadia da guitarra e a doçura do violão, tratou-se de um momento que me soou bem intimista ainda que os metais vibrantes que compunham a banda tenham quebrado qualquer gelo e transformado a pequena Oficina de Teatro da UEM no espaço de um Grande Encontro.
Um grande encontro entre amigos.

Poucas pessoas estavam na platéia. Nem chegamos a lotar o pequeno teatro, mas a harmonia das belas melodias, que falavam “sobre alguns acordes / sobre alguns poemas / sobre algumas canções / sobre um tempo / sobre um rio / sobre um lugar / sobre o amor / sobre o mar / sobre o olhar / sobretudo ainda sobre o
luar”
[1] , criaram um ambiente singelo, mas muito aconchegante.

No inicio Dudu parecia estar um pouco nervoso, talvez emocionado, mas aos poucos foi se soltando...tirou o microfone do pedestal...arriscou um sambinha tímido e um rebolar descontraído.
Duas coisas me causaram estranhamento: pra começar, só pra contrariar meu pedido, me deparei com Eduardo sem seus cachos brancos. Mas, dentre os males o menor.
O que realmente me impressionou foi a ausência de alunos naquela apresentação. Está certo que fui a apenas uma das três que ele fez.
De qualquer modo, muito estranho. Após quase três décadas lecionando nesta universidade, onde estavam os alunos, que certamente não foram poucos para os quais ele se dedicou?
Naquela noite, éramos apenas dois.
Feita minha observação e externado minha inquietude, o que dizer então sobre o CD?
Vou me utilizar das palavras de um amigo para quem mostrei o disco logo no domingo de manhã: “Muito melhor que qualquer coisa que vemos por ai!!!”

Devo dizer ainda que aquela noite (a do show) terminou muito alegre. Naquele clima em que na verdade se espera que ela não se acabe.
Pizza, cerveja, bate-papo, muita risada e carinho na companhia de amigos e amigas muito especiais. Incluindo o próprio artista, é claro!

Um abraço de boa-noite.
E um gostinho de saudade.
Mas, apesar da distância: estaremos “online” no MSN. Precisando e querendo é só chamar.
Ou então, “te mando um beijo pelo luar”.

Video para aquele que quiserem santir o gostinho dajabuticaba

http://www.youtube.com/watch?v=ruy3pFWlnTo


[1] Canção Sobretudo “que nasceu da tarefa de enxugar o texto que escrevi para apresentar este trabalho (o CD)" – Eduardo Montagnari.

[2] trecho da musica que abre o CD - Sem Razão

terça-feira, 17 de novembro de 2009

DEVANEIO nº 6 - Cachos brancos



Foi numa quinta-feira do mês de Fevereiro de 2007 que vi pela primeira vez aqueles cachos brancos.
Era apenas uma caloura chegando à universidade e empenhada em novas descobertas.
Tudo era novidade...tudo era intrigante...
Aquela figura era emblemática. Tinha impressão de já tê-lo visto em algum lugar. Eis que os cutucões entre os colegas de sala começam a se agitar e os burburinhos ecoarem: “Ei, ele é a ‘cara’ do Ziraldo!!” – e é!
Se apresentou como nosso professor de Sociologia I. E a primeira questão que nos propôs foi:
_ Escrevam o que aconteceu de estranho no dia de vocês, hoje.
Pensei com meus botões: “Você, oras!” – o verdadeiro sociólogo, calças de moleton largas, camiseta comprida (ou seria camisa?) e tênis cor de grifa texto, sabem?
Querem mais estranho que isto? - rs...

A primeira lição?

Achem estranho o que não é estranho (...)
Desconfiem de tudo (...)
Façam sempre perguntas (...)
Num tempo de humanidade desumanizada,
Nunca achem tudo Natural
”. – Bertot Brecht

Este foi meu primeiro contato com o meu caro professor e amigo, Eduardo Fernando Montagnari.
Foi um semestre muito agradável, acompanhado de um pouco de Comte, um pitaco de Weber, certa dose de Marx e algumas coisas de Durkheim.
O Eduardo falava...falava...falava...e em muitos momentos eu não o compreendia. Assim com eu ele também tinha seus devaneios. Mas valeu.
No próximo ano ele ficou incumbido de uma missão quase impossível: fazer-nos compreender mais detidamente Émilie Durkheim. A disciplina agora era Sociologia III. Esta foi mais uma história de amor e ódio; enganos e descobertas; exaltações e consensos (estes em menos medida, diga-se de passagem). Mas, valeu também.

A disciplina?

Ah! Pra quê perdermos tempo nela? O post é referente ao Eduardo.
Sem mais delongas, um exímio profissional.

Mas, o mais interessante ocorreu foi em Fevereiro deste ano. Após vários convites adiados, fui com uma turma de amigos assaltar a adega do Dudu (já posso chama-lo assim). Uma noite muito agradável ao som de muitas conversas e de boa música.

Chegamos ao ponto!

Naquela noite Dudu nos apresentou uma obra prima. Um trabalho raro. Artesanal mesmo. Um demo do Seu CD.
Yes, meus caros. Eduardo Montagnari compõe. Canta e encanta.
E, após dois anos de trabalho duro e muita dedicação. Afinal, com ele mesmo sonoriza, “cantar leva um tempo, puro movimento. Momento de sentir”. Após muitos encontros com grandes e talentosos músicos em sua própria casa (que transformou em estúdio nas noites de segunda-feira) estamos prestes a conhecer o Dajabuticaba.
Em meu Devaneio nº3 anunciei-o. E agora é o momento de divulgá-lo.
O CD reúne canções compostas ao longo de toda a vida do Dudu, e congrega uma musicalidade muito eclética.
Nos dias 27, 28 e 29 deste mês, ele se apresentará no Teatro Oficina da UEM.
Além do lançamento do disco, as apresentações marcam a despedida de Eduardo de Maringá. Após algumas décadas se dedicando à vida acadêmica, chegou a hora de dedicar-se a si mesmo.
Alguns anos e momentos de convivência bem agradáveis.
Espero reencontrá-lo na próxima semana. Estou ansiosa pelos shows. Espero também que venha com seus cachinhos brancos. Não os corte, pois “gosto dos cabelos compridos e ninguém tem nada com isso”.
rsrs...

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

DEVANEIO nº 5 - Em defesa da arte e da boa música


Na procura incessante por algo “novo” desprezamos tudo aquilo que já possuímos de bom.
Um ídolo nem sempre é um artista. Assim como na maioria das vezes um verdadeiro artista não é um ídolo. Nem sempre o verdadeiro artista é o ícone do momento. Nem sempre ele toca nas rádios a todo o momento, aparece na TV a toda hora ou vende milhões de discos.
Passei a pensar em tudo isso a partir de uma experiência muito particular, mas passível de generalizações.
Há poucas semanas me deparei com um vídeo, na internet, da cantora Ângela Ro Ro. A partir de então parece que todo o conceito musical que eu tinha foi pelas águas. Ou teria ele começado a ser construído naquele momento? Fiquei inconformada de não tê-la “descoberto” antes.
Sua voz forte e rouca, mas ao mesmo tempo branda e doce, é inigualável. Sua poesia é tocante. Sua musicalidade é contagiante. E sua sinceridade musical é de emocionar. Presença de palco? Ela se basta!
Prestes a completar 60 anos de idade e 30 anos de carreira, por onde anda Ro Ro?
O “desaparecimento” de Ângela Ro Ro é decorrente do preconceito da industria cultural dos anos 90. Da memória curta dos brasileiros. E de uma imprensa falida e rendida à lógica da poesia sem rima; das letras sem conteúdo; e dos ritmos desordenados. Mas com um objetivo muito claro: A venda! O lucro! Ainda que a conseqüência seja o aniquilamento cultural de quem consome. Talvez seja esse o objetivo real...
Ângela Ro Ro é uma, dentre os vários artistas, que teve sua arte obscurecida. Sofreu ainda o preconceito daqueles que confundem vida pessoal com trabalho. E fizeram da vida dela um motivo para espiarem sua arte e, porque não dizer, “boicota-la”.
Maysa, Cazuza, Elis e muitos outros foram ícones dos anos 70 e 80 que viram suas carreiras se esvair com a vida. Ou a vida ser tomada pela carreira? Quem sabe? Destes, entre a vida e a arte (que é imortal) ficamos com a última. E disso nos orgulhamos.
Ro Ro, artista contemporânea de todos estes, é do tipo que fez (e faz) tudo o que pôde e quis. Nunca escondeu suas atitudes, paixões e posicionamentos. Mas, ao contrario daqueles, preservou sua vida. Cabe a nós preservarmos sua arte!
As composições de Ângela fazem transparecer, a cada época, o seu Ser em cada canção. É emocionante perceber o artista naquilo que ele faz.
Sobre isto, para ficarmos com apenas duas musicas, dentre as muitas de Ângela – que tem como maior sucesso a fenomenal “Amor, meu grande amor” – destacamos, de 1980 “Meu mal é a birita”, em que a cantora revela toda sua fragilidade diante do vicio; e, mais recentemente, “Boemia do sono”, na qual mostra a superação do mesmo.
Não é nossa intenção e certamente não é a de Ro Ro fazer apologia valorativa a nenhuma opção de conduta de vida. Esta foi mais uma de Suas opções. A cima de tudo é uma grande defensora da VIDA!
Queremos sim, é revelar a arte escondida de Ângela Ro Ro.
Queremos sim, denunciar o abandono cultural a que renegamos nossos artistas.
Queremos sim, alertar a todos para o que têm chamando de “novo” por ai. E sob quais argumentos descartam o que acham obsoleto.
Fica o recado e a denuncia, assim como a dica: “Ouçam Ângela RoRo” – certamente ficarão emocionados e entenderão um pouco mais o que talvez estas linhas não foram suficientemente capazes de externar.

“Dou o que preciso sem querer resposta, trata-se de apenas uma aposta entre eu e meu destino (...) Tenho pois que ser forte e serei. Aliada ao tempo, vencerei os males do mundo, só”. – Ângela Ro Ro

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

DEVANEIO nº4 - Discutir até que ponto?

É difícil entender estes estudantes!

Principalmente os de Ciências Sociais. E mais ainda, principalmente aqueles que esbravejam a necessidade da Re-vo-lu-ção. Aqueles que carregam “O Capital” como a Bíblia Sagrada; Trotsky, Lênin, Lukács, Kautsky, Rosa, Gramsci etc...etc...como alguns dos 12 apóstolos.

As aulas estão aí, batendo à porta.

A cada ano uma nova turma e é sempre aquela:“o que vamos fazer para recepcionar os calouros?”. Eis que ecoa a voz grave e pontual de um destes discípulos: “vamos beber!

Ora, ora...que maravilha!

Acho importantíssimo festejar, além do mais é o início de uma nova fase na vida de 40 jovens que vêm ingressar na “Universidade”; já passamos por isto também.

Mas, vejam bem, por que nós temos que fazer o que todos fazem? – “Beber, cair e levantar”, para daí beber outra vez....

Façamos então um trote solidário! Propõe alguém. Doemos-nos de alguma forma. Olhemos para as necessidades de muitos a nossa volta. (doar sangue, arrecadar alimentos, fazer uma campanha de reciclagem na universidade) – Por que não darmos exemplos de coisas boas?

Sabem quantos morrem nas filas de hospitais a espera de uma bolsa de sangue? Sabem quantos dependem de asilos, de instituições de caridade para fazerem ao menos uma refeição por dia? Sabem quantos Kg de lixo reciclável produzimos por dia? Sabem quantos vivem e dependem deste lixo? Sabem? Sabem? Sabem?

E o que fazemos?

Ah, os revolucionários gritam: “vamos discutir a crise mundial, a situação dos desempregados, a Guerra do Oriente Médio!”

Discutir o quê?

E mais: discutir na mesa de bar?

A realidade já está dada. Não nos é preciso mais que 2min de reflexão para chegarmos a análise concreta de uma realidade concreta”. Olhe pro lado.

E ainda vamos ficar discutindo? A conclusão todos sabem: “o mundo está um caos”.

Enquanto discutimos milhares morrem!

Vamos esperar o quê? Entramos num consenso? Se houvesse consenso entre os homens o mundo não estaria como está!

É fácil colocar a culpa no sistema enquanto se faz parte dele. Não adianta esperar somente do outro uma mudança e uma atitude que nos compete também.

O que nos custa fazer um pouco ao próximo?

Conformismo?

De modo algum!

Da interpretação do mundo os filósofos já cuidaram; “trata-se porém de modificá-lo”!

Agir! Ou faltaram à esta aula da catequese?

Esta é a ordem da vez.

Weberianos, Marxistas, Durkheiminianos, Trotskistas, etc...no fim das contas somos todos Seres-Humanos e esta é raça que está sofrendo.

Tenho dito!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

DEVANEIO nº 3 - O Portão

Quase três meses sem postar, mas cá estou eu novamente. Na verdade, desde o último Especial de final de ano do “nosso rei” Roberto Carlos tive vontade de escrever.

Férias...Preguiça...Revendo os amigos...Festas...Viagens...

Mas, “eu voltei, agora pra ficar...” e justamente ao ouvir esta música no Especial, denominada O Portão, gravada por Roberto em 1974 quis escrever. Divaguei um pouco e fiquei impressionada com a precisão com que o cantor descreve uma cena. Um retorno.

Certamente muitos já cantarolaram estes versos. Sugiro que parem e prestem atenção nos detalhes (sem trocadilhos). Etnograficamente perfeito.

Neste dia (o do Especial) várias coisas numa só compunham aquele cenário. Roberto Carlos nesta música dividiu o palco com Zezé di Camargo e Luciano. E não faço segredo a ninguém que por este motivo fui levada a assistir aquele programa, reincidente ano a ano. – (fiquei em dúvida: seria esta uma construção pleonástica?)

Pois bem, cantar a música foi uma proposição de Zezé. Um desejo. Admiração pela música e uma “divida” deixada lá nos idos dos anos 90, quando não tinham a credibilidade de hoje e o “É o amor” ainda lhe rendia pouco, ao serem cortados do Especial em que cantariam a tal canção com Roberto. No entanto acredito que agora esta canção tenha sido mais significativa, uma pelo gostinho de realizar o que tinha ficado pendente e outra já que o “EU VOLTEI” representa muito para Zezé que quase teve que se afastar dos palcos por conta de um nódulo nas cordas vocais. Tudo resolvido. Prós e contras. Eu gostei. Mas, naquela noite o que mais me marcou mesmo foi o fato de prestar atenção na letra da música.

Tá!

Aliás, estas férias foram marcadas por (re)descobertas. Ou estava mesmo era mais atenta.

Alguém assistiu “Capitu”?

Eu sim!

Não sou muito fã de Machado, não li Dom Casmurro. Por isso mesmo me instiguei a assistir a Série. Gostei. Até peguei o livro para ler. Não consegui. Tenho lá minhas diferenças com Machado, que por sinal não apareceram quando li Brás Cubas. No entanto algumas passagens que ouvi na TV, fui buscar pontualmente na obra, por que eram verdadeiras poesias. Gostei. Os diálogos com o leitor são belíssimos. Como: "Tudo acaba, leitor; é um velho truísmo, a que se pode acrescentar que nem tudo o que dura dura muito tempo. (...) ao contrário, a idéia de que um castelo de vento dura mais que o mesmo vento de que é feito, dificilmente se despegará da cabeça, e é bom que seja assim, para que se não perca o costume daquelas construções quase eternas. O nosso castelo era sólido, mas um domingo...” _ (Dom Casmurro, Cap. 118, p. 110). Não só um amor de homem e mulher, mas uma amizade quem sabe? Afinal, “o pra sempre, sempre acaba”, não é mesmo?

É difícil colocar de uma vez vários pensamentos. Mas não quero dar importância maior ou menor a nenhum em específico.

Poderia estar aqui questionando a situação do Oriente médio, o novo presidente dos EUA, a crise mundial. Mas, isto todos estão fazendo. Isto é inevitável pensar. Não são devaneios...são fatos!

Dentre minhas quimeras de férias poderia ainda falar sobre Maysa, sobre o BBB-9, sobre os Caminhos das Índias. Mas sobre as descobertas pessoais vejo mais sentido em dizer.

Dentre elas algo muito legal que me aconteceu há poucos dias.

Fui à casa de um amigo que há muito convidava a mim e alguns amigos para uma visita. Que a arte era seu forte não se tinha dúvida, mas que a música estava no seu interior com tanta força, isso foi sim uma grande descoberta.

Depois de exalar tanto “vapor barato” nos anos 70 em breve ele virá nos “dá – jaboticaba”. Entenderão em breve.

Uma de suas canções afirma algo que me coloquei, na verdade, a questionar: “O medo é o pai do silêncio”?

O quê dizer de:

“Por isso cuidado meu bem, há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal está fechado prá nós que somos jovens”

E ainda:

“Pelos campos a fome em grandes plantações,
Pelas ruas marchando indecisos cordões,
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão,
E acreditam nas flores vencendo o canhão,
Vem, vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”

E mais:

“O sol se reparte em crimes,
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou
Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor”

Ou:

“Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros. Juro!
Todo esse amor reprimido,
Esse grito contido,
Esse samba no escuro”

A marca de um tempo. Uma razão. Uma vontade. Uma necessidade. Apesar da repressão a união!

E hoje o que temos?

A “democracia” nos trouxe a banalidade cultural. O comodismo. Cadê os versos metrados e a composição cuidadosa de um Roberto daquela época – já que parece que até o “amor” do rei se rendeu ao comércio. A coragem, força e ousadia de um Chico, Milton, Gal, Tom Zé, Geraldo Vandré??

Temos liberdade de expressão, não menos motivos pra questionar, mas falta coragem? Preguiça de pensar?

E depois de tanta coisa boa feita lá nos idos da Ditadura, será que “o medo é o pai do silêncio”?

Amigos, estou aguardando ansiosa o “Dajaboticaba”! Produção independente e de ótima qualidade. Assim que ele chegar anuncio aqui. É o que muitos precisam ouvir: Qualidade!