segunda-feira, 30 de novembro de 2009

DEVANEIO nº 7 - "felicidade tamanha conjuga o verbo Cantar" ²

Perdoem-me amigos e caros leitores (se é que vocês realmente existem) por certa demora em trazer-lhes novidades.
Finalmente a ansiedade acabou!
No último sábado fui prestigiar meu amigo Eduardo Montagnari, no lançamento de seu CD, como anunciei no post abaixo.
Não lhes trouxe noticias com a mesma velocidade dos grandes meios de comunicação, primeiro por que, apesar de adepta à internet, precisava cuidar das palavras que vos traria. E, depois, por que a Boemia e o trabalho de fiscal no Vestibular da UEM no domingo me impediram.

Pois bem! Vamos ao show!

Simplesmente, “rolei, roleta russa...”.

Na batida certeira da batera, com os braços ao alto e a voz vibrante, foi assim que Eduardo deu inicio à sua apresentação.
Acompanhado por um teclado, um baixo, a batera, a alternância entra a ousadia da guitarra e a doçura do violão, tratou-se de um momento que me soou bem intimista ainda que os metais vibrantes que compunham a banda tenham quebrado qualquer gelo e transformado a pequena Oficina de Teatro da UEM no espaço de um Grande Encontro.
Um grande encontro entre amigos.

Poucas pessoas estavam na platéia. Nem chegamos a lotar o pequeno teatro, mas a harmonia das belas melodias, que falavam “sobre alguns acordes / sobre alguns poemas / sobre algumas canções / sobre um tempo / sobre um rio / sobre um lugar / sobre o amor / sobre o mar / sobre o olhar / sobretudo ainda sobre o
luar”
[1] , criaram um ambiente singelo, mas muito aconchegante.

No inicio Dudu parecia estar um pouco nervoso, talvez emocionado, mas aos poucos foi se soltando...tirou o microfone do pedestal...arriscou um sambinha tímido e um rebolar descontraído.
Duas coisas me causaram estranhamento: pra começar, só pra contrariar meu pedido, me deparei com Eduardo sem seus cachos brancos. Mas, dentre os males o menor.
O que realmente me impressionou foi a ausência de alunos naquela apresentação. Está certo que fui a apenas uma das três que ele fez.
De qualquer modo, muito estranho. Após quase três décadas lecionando nesta universidade, onde estavam os alunos, que certamente não foram poucos para os quais ele se dedicou?
Naquela noite, éramos apenas dois.
Feita minha observação e externado minha inquietude, o que dizer então sobre o CD?
Vou me utilizar das palavras de um amigo para quem mostrei o disco logo no domingo de manhã: “Muito melhor que qualquer coisa que vemos por ai!!!”

Devo dizer ainda que aquela noite (a do show) terminou muito alegre. Naquele clima em que na verdade se espera que ela não se acabe.
Pizza, cerveja, bate-papo, muita risada e carinho na companhia de amigos e amigas muito especiais. Incluindo o próprio artista, é claro!

Um abraço de boa-noite.
E um gostinho de saudade.
Mas, apesar da distância: estaremos “online” no MSN. Precisando e querendo é só chamar.
Ou então, “te mando um beijo pelo luar”.

Video para aquele que quiserem santir o gostinho dajabuticaba

http://www.youtube.com/watch?v=ruy3pFWlnTo


[1] Canção Sobretudo “que nasceu da tarefa de enxugar o texto que escrevi para apresentar este trabalho (o CD)" – Eduardo Montagnari.

[2] trecho da musica que abre o CD - Sem Razão

terça-feira, 17 de novembro de 2009

DEVANEIO nº 6 - Cachos brancos



Foi numa quinta-feira do mês de Fevereiro de 2007 que vi pela primeira vez aqueles cachos brancos.
Era apenas uma caloura chegando à universidade e empenhada em novas descobertas.
Tudo era novidade...tudo era intrigante...
Aquela figura era emblemática. Tinha impressão de já tê-lo visto em algum lugar. Eis que os cutucões entre os colegas de sala começam a se agitar e os burburinhos ecoarem: “Ei, ele é a ‘cara’ do Ziraldo!!” – e é!
Se apresentou como nosso professor de Sociologia I. E a primeira questão que nos propôs foi:
_ Escrevam o que aconteceu de estranho no dia de vocês, hoje.
Pensei com meus botões: “Você, oras!” – o verdadeiro sociólogo, calças de moleton largas, camiseta comprida (ou seria camisa?) e tênis cor de grifa texto, sabem?
Querem mais estranho que isto? - rs...

A primeira lição?

Achem estranho o que não é estranho (...)
Desconfiem de tudo (...)
Façam sempre perguntas (...)
Num tempo de humanidade desumanizada,
Nunca achem tudo Natural
”. – Bertot Brecht

Este foi meu primeiro contato com o meu caro professor e amigo, Eduardo Fernando Montagnari.
Foi um semestre muito agradável, acompanhado de um pouco de Comte, um pitaco de Weber, certa dose de Marx e algumas coisas de Durkheim.
O Eduardo falava...falava...falava...e em muitos momentos eu não o compreendia. Assim com eu ele também tinha seus devaneios. Mas valeu.
No próximo ano ele ficou incumbido de uma missão quase impossível: fazer-nos compreender mais detidamente Émilie Durkheim. A disciplina agora era Sociologia III. Esta foi mais uma história de amor e ódio; enganos e descobertas; exaltações e consensos (estes em menos medida, diga-se de passagem). Mas, valeu também.

A disciplina?

Ah! Pra quê perdermos tempo nela? O post é referente ao Eduardo.
Sem mais delongas, um exímio profissional.

Mas, o mais interessante ocorreu foi em Fevereiro deste ano. Após vários convites adiados, fui com uma turma de amigos assaltar a adega do Dudu (já posso chama-lo assim). Uma noite muito agradável ao som de muitas conversas e de boa música.

Chegamos ao ponto!

Naquela noite Dudu nos apresentou uma obra prima. Um trabalho raro. Artesanal mesmo. Um demo do Seu CD.
Yes, meus caros. Eduardo Montagnari compõe. Canta e encanta.
E, após dois anos de trabalho duro e muita dedicação. Afinal, com ele mesmo sonoriza, “cantar leva um tempo, puro movimento. Momento de sentir”. Após muitos encontros com grandes e talentosos músicos em sua própria casa (que transformou em estúdio nas noites de segunda-feira) estamos prestes a conhecer o Dajabuticaba.
Em meu Devaneio nº3 anunciei-o. E agora é o momento de divulgá-lo.
O CD reúne canções compostas ao longo de toda a vida do Dudu, e congrega uma musicalidade muito eclética.
Nos dias 27, 28 e 29 deste mês, ele se apresentará no Teatro Oficina da UEM.
Além do lançamento do disco, as apresentações marcam a despedida de Eduardo de Maringá. Após algumas décadas se dedicando à vida acadêmica, chegou a hora de dedicar-se a si mesmo.
Alguns anos e momentos de convivência bem agradáveis.
Espero reencontrá-lo na próxima semana. Estou ansiosa pelos shows. Espero também que venha com seus cachinhos brancos. Não os corte, pois “gosto dos cabelos compridos e ninguém tem nada com isso”.
rsrs...

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

DEVANEIO nº 5 - Em defesa da arte e da boa música


Na procura incessante por algo “novo” desprezamos tudo aquilo que já possuímos de bom.
Um ídolo nem sempre é um artista. Assim como na maioria das vezes um verdadeiro artista não é um ídolo. Nem sempre o verdadeiro artista é o ícone do momento. Nem sempre ele toca nas rádios a todo o momento, aparece na TV a toda hora ou vende milhões de discos.
Passei a pensar em tudo isso a partir de uma experiência muito particular, mas passível de generalizações.
Há poucas semanas me deparei com um vídeo, na internet, da cantora Ângela Ro Ro. A partir de então parece que todo o conceito musical que eu tinha foi pelas águas. Ou teria ele começado a ser construído naquele momento? Fiquei inconformada de não tê-la “descoberto” antes.
Sua voz forte e rouca, mas ao mesmo tempo branda e doce, é inigualável. Sua poesia é tocante. Sua musicalidade é contagiante. E sua sinceridade musical é de emocionar. Presença de palco? Ela se basta!
Prestes a completar 60 anos de idade e 30 anos de carreira, por onde anda Ro Ro?
O “desaparecimento” de Ângela Ro Ro é decorrente do preconceito da industria cultural dos anos 90. Da memória curta dos brasileiros. E de uma imprensa falida e rendida à lógica da poesia sem rima; das letras sem conteúdo; e dos ritmos desordenados. Mas com um objetivo muito claro: A venda! O lucro! Ainda que a conseqüência seja o aniquilamento cultural de quem consome. Talvez seja esse o objetivo real...
Ângela Ro Ro é uma, dentre os vários artistas, que teve sua arte obscurecida. Sofreu ainda o preconceito daqueles que confundem vida pessoal com trabalho. E fizeram da vida dela um motivo para espiarem sua arte e, porque não dizer, “boicota-la”.
Maysa, Cazuza, Elis e muitos outros foram ícones dos anos 70 e 80 que viram suas carreiras se esvair com a vida. Ou a vida ser tomada pela carreira? Quem sabe? Destes, entre a vida e a arte (que é imortal) ficamos com a última. E disso nos orgulhamos.
Ro Ro, artista contemporânea de todos estes, é do tipo que fez (e faz) tudo o que pôde e quis. Nunca escondeu suas atitudes, paixões e posicionamentos. Mas, ao contrario daqueles, preservou sua vida. Cabe a nós preservarmos sua arte!
As composições de Ângela fazem transparecer, a cada época, o seu Ser em cada canção. É emocionante perceber o artista naquilo que ele faz.
Sobre isto, para ficarmos com apenas duas musicas, dentre as muitas de Ângela – que tem como maior sucesso a fenomenal “Amor, meu grande amor” – destacamos, de 1980 “Meu mal é a birita”, em que a cantora revela toda sua fragilidade diante do vicio; e, mais recentemente, “Boemia do sono”, na qual mostra a superação do mesmo.
Não é nossa intenção e certamente não é a de Ro Ro fazer apologia valorativa a nenhuma opção de conduta de vida. Esta foi mais uma de Suas opções. A cima de tudo é uma grande defensora da VIDA!
Queremos sim, é revelar a arte escondida de Ângela Ro Ro.
Queremos sim, denunciar o abandono cultural a que renegamos nossos artistas.
Queremos sim, alertar a todos para o que têm chamando de “novo” por ai. E sob quais argumentos descartam o que acham obsoleto.
Fica o recado e a denuncia, assim como a dica: “Ouçam Ângela RoRo” – certamente ficarão emocionados e entenderão um pouco mais o que talvez estas linhas não foram suficientemente capazes de externar.

“Dou o que preciso sem querer resposta, trata-se de apenas uma aposta entre eu e meu destino (...) Tenho pois que ser forte e serei. Aliada ao tempo, vencerei os males do mundo, só”. – Ângela Ro Ro