sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

DEVANEIO nº4 - Discutir até que ponto?

É difícil entender estes estudantes!

Principalmente os de Ciências Sociais. E mais ainda, principalmente aqueles que esbravejam a necessidade da Re-vo-lu-ção. Aqueles que carregam “O Capital” como a Bíblia Sagrada; Trotsky, Lênin, Lukács, Kautsky, Rosa, Gramsci etc...etc...como alguns dos 12 apóstolos.

As aulas estão aí, batendo à porta.

A cada ano uma nova turma e é sempre aquela:“o que vamos fazer para recepcionar os calouros?”. Eis que ecoa a voz grave e pontual de um destes discípulos: “vamos beber!

Ora, ora...que maravilha!

Acho importantíssimo festejar, além do mais é o início de uma nova fase na vida de 40 jovens que vêm ingressar na “Universidade”; já passamos por isto também.

Mas, vejam bem, por que nós temos que fazer o que todos fazem? – “Beber, cair e levantar”, para daí beber outra vez....

Façamos então um trote solidário! Propõe alguém. Doemos-nos de alguma forma. Olhemos para as necessidades de muitos a nossa volta. (doar sangue, arrecadar alimentos, fazer uma campanha de reciclagem na universidade) – Por que não darmos exemplos de coisas boas?

Sabem quantos morrem nas filas de hospitais a espera de uma bolsa de sangue? Sabem quantos dependem de asilos, de instituições de caridade para fazerem ao menos uma refeição por dia? Sabem quantos Kg de lixo reciclável produzimos por dia? Sabem quantos vivem e dependem deste lixo? Sabem? Sabem? Sabem?

E o que fazemos?

Ah, os revolucionários gritam: “vamos discutir a crise mundial, a situação dos desempregados, a Guerra do Oriente Médio!”

Discutir o quê?

E mais: discutir na mesa de bar?

A realidade já está dada. Não nos é preciso mais que 2min de reflexão para chegarmos a análise concreta de uma realidade concreta”. Olhe pro lado.

E ainda vamos ficar discutindo? A conclusão todos sabem: “o mundo está um caos”.

Enquanto discutimos milhares morrem!

Vamos esperar o quê? Entramos num consenso? Se houvesse consenso entre os homens o mundo não estaria como está!

É fácil colocar a culpa no sistema enquanto se faz parte dele. Não adianta esperar somente do outro uma mudança e uma atitude que nos compete também.

O que nos custa fazer um pouco ao próximo?

Conformismo?

De modo algum!

Da interpretação do mundo os filósofos já cuidaram; “trata-se porém de modificá-lo”!

Agir! Ou faltaram à esta aula da catequese?

Esta é a ordem da vez.

Weberianos, Marxistas, Durkheiminianos, Trotskistas, etc...no fim das contas somos todos Seres-Humanos e esta é raça que está sofrendo.

Tenho dito!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

DEVANEIO nº 3 - O Portão

Quase três meses sem postar, mas cá estou eu novamente. Na verdade, desde o último Especial de final de ano do “nosso rei” Roberto Carlos tive vontade de escrever.

Férias...Preguiça...Revendo os amigos...Festas...Viagens...

Mas, “eu voltei, agora pra ficar...” e justamente ao ouvir esta música no Especial, denominada O Portão, gravada por Roberto em 1974 quis escrever. Divaguei um pouco e fiquei impressionada com a precisão com que o cantor descreve uma cena. Um retorno.

Certamente muitos já cantarolaram estes versos. Sugiro que parem e prestem atenção nos detalhes (sem trocadilhos). Etnograficamente perfeito.

Neste dia (o do Especial) várias coisas numa só compunham aquele cenário. Roberto Carlos nesta música dividiu o palco com Zezé di Camargo e Luciano. E não faço segredo a ninguém que por este motivo fui levada a assistir aquele programa, reincidente ano a ano. – (fiquei em dúvida: seria esta uma construção pleonástica?)

Pois bem, cantar a música foi uma proposição de Zezé. Um desejo. Admiração pela música e uma “divida” deixada lá nos idos dos anos 90, quando não tinham a credibilidade de hoje e o “É o amor” ainda lhe rendia pouco, ao serem cortados do Especial em que cantariam a tal canção com Roberto. No entanto acredito que agora esta canção tenha sido mais significativa, uma pelo gostinho de realizar o que tinha ficado pendente e outra já que o “EU VOLTEI” representa muito para Zezé que quase teve que se afastar dos palcos por conta de um nódulo nas cordas vocais. Tudo resolvido. Prós e contras. Eu gostei. Mas, naquela noite o que mais me marcou mesmo foi o fato de prestar atenção na letra da música.

Tá!

Aliás, estas férias foram marcadas por (re)descobertas. Ou estava mesmo era mais atenta.

Alguém assistiu “Capitu”?

Eu sim!

Não sou muito fã de Machado, não li Dom Casmurro. Por isso mesmo me instiguei a assistir a Série. Gostei. Até peguei o livro para ler. Não consegui. Tenho lá minhas diferenças com Machado, que por sinal não apareceram quando li Brás Cubas. No entanto algumas passagens que ouvi na TV, fui buscar pontualmente na obra, por que eram verdadeiras poesias. Gostei. Os diálogos com o leitor são belíssimos. Como: "Tudo acaba, leitor; é um velho truísmo, a que se pode acrescentar que nem tudo o que dura dura muito tempo. (...) ao contrário, a idéia de que um castelo de vento dura mais que o mesmo vento de que é feito, dificilmente se despegará da cabeça, e é bom que seja assim, para que se não perca o costume daquelas construções quase eternas. O nosso castelo era sólido, mas um domingo...” _ (Dom Casmurro, Cap. 118, p. 110). Não só um amor de homem e mulher, mas uma amizade quem sabe? Afinal, “o pra sempre, sempre acaba”, não é mesmo?

É difícil colocar de uma vez vários pensamentos. Mas não quero dar importância maior ou menor a nenhum em específico.

Poderia estar aqui questionando a situação do Oriente médio, o novo presidente dos EUA, a crise mundial. Mas, isto todos estão fazendo. Isto é inevitável pensar. Não são devaneios...são fatos!

Dentre minhas quimeras de férias poderia ainda falar sobre Maysa, sobre o BBB-9, sobre os Caminhos das Índias. Mas sobre as descobertas pessoais vejo mais sentido em dizer.

Dentre elas algo muito legal que me aconteceu há poucos dias.

Fui à casa de um amigo que há muito convidava a mim e alguns amigos para uma visita. Que a arte era seu forte não se tinha dúvida, mas que a música estava no seu interior com tanta força, isso foi sim uma grande descoberta.

Depois de exalar tanto “vapor barato” nos anos 70 em breve ele virá nos “dá – jaboticaba”. Entenderão em breve.

Uma de suas canções afirma algo que me coloquei, na verdade, a questionar: “O medo é o pai do silêncio”?

O quê dizer de:

“Por isso cuidado meu bem, há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal está fechado prá nós que somos jovens”

E ainda:

“Pelos campos a fome em grandes plantações,
Pelas ruas marchando indecisos cordões,
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão,
E acreditam nas flores vencendo o canhão,
Vem, vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”

E mais:

“O sol se reparte em crimes,
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou
Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor”

Ou:

“Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros. Juro!
Todo esse amor reprimido,
Esse grito contido,
Esse samba no escuro”

A marca de um tempo. Uma razão. Uma vontade. Uma necessidade. Apesar da repressão a união!

E hoje o que temos?

A “democracia” nos trouxe a banalidade cultural. O comodismo. Cadê os versos metrados e a composição cuidadosa de um Roberto daquela época – já que parece que até o “amor” do rei se rendeu ao comércio. A coragem, força e ousadia de um Chico, Milton, Gal, Tom Zé, Geraldo Vandré??

Temos liberdade de expressão, não menos motivos pra questionar, mas falta coragem? Preguiça de pensar?

E depois de tanta coisa boa feita lá nos idos da Ditadura, será que “o medo é o pai do silêncio”?

Amigos, estou aguardando ansiosa o “Dajaboticaba”! Produção independente e de ótima qualidade. Assim que ele chegar anuncio aqui. É o que muitos precisam ouvir: Qualidade!