segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

DEVANEIO nº 3 - O Portão

Quase três meses sem postar, mas cá estou eu novamente. Na verdade, desde o último Especial de final de ano do “nosso rei” Roberto Carlos tive vontade de escrever.

Férias...Preguiça...Revendo os amigos...Festas...Viagens...

Mas, “eu voltei, agora pra ficar...” e justamente ao ouvir esta música no Especial, denominada O Portão, gravada por Roberto em 1974 quis escrever. Divaguei um pouco e fiquei impressionada com a precisão com que o cantor descreve uma cena. Um retorno.

Certamente muitos já cantarolaram estes versos. Sugiro que parem e prestem atenção nos detalhes (sem trocadilhos). Etnograficamente perfeito.

Neste dia (o do Especial) várias coisas numa só compunham aquele cenário. Roberto Carlos nesta música dividiu o palco com Zezé di Camargo e Luciano. E não faço segredo a ninguém que por este motivo fui levada a assistir aquele programa, reincidente ano a ano. – (fiquei em dúvida: seria esta uma construção pleonástica?)

Pois bem, cantar a música foi uma proposição de Zezé. Um desejo. Admiração pela música e uma “divida” deixada lá nos idos dos anos 90, quando não tinham a credibilidade de hoje e o “É o amor” ainda lhe rendia pouco, ao serem cortados do Especial em que cantariam a tal canção com Roberto. No entanto acredito que agora esta canção tenha sido mais significativa, uma pelo gostinho de realizar o que tinha ficado pendente e outra já que o “EU VOLTEI” representa muito para Zezé que quase teve que se afastar dos palcos por conta de um nódulo nas cordas vocais. Tudo resolvido. Prós e contras. Eu gostei. Mas, naquela noite o que mais me marcou mesmo foi o fato de prestar atenção na letra da música.

Tá!

Aliás, estas férias foram marcadas por (re)descobertas. Ou estava mesmo era mais atenta.

Alguém assistiu “Capitu”?

Eu sim!

Não sou muito fã de Machado, não li Dom Casmurro. Por isso mesmo me instiguei a assistir a Série. Gostei. Até peguei o livro para ler. Não consegui. Tenho lá minhas diferenças com Machado, que por sinal não apareceram quando li Brás Cubas. No entanto algumas passagens que ouvi na TV, fui buscar pontualmente na obra, por que eram verdadeiras poesias. Gostei. Os diálogos com o leitor são belíssimos. Como: "Tudo acaba, leitor; é um velho truísmo, a que se pode acrescentar que nem tudo o que dura dura muito tempo. (...) ao contrário, a idéia de que um castelo de vento dura mais que o mesmo vento de que é feito, dificilmente se despegará da cabeça, e é bom que seja assim, para que se não perca o costume daquelas construções quase eternas. O nosso castelo era sólido, mas um domingo...” _ (Dom Casmurro, Cap. 118, p. 110). Não só um amor de homem e mulher, mas uma amizade quem sabe? Afinal, “o pra sempre, sempre acaba”, não é mesmo?

É difícil colocar de uma vez vários pensamentos. Mas não quero dar importância maior ou menor a nenhum em específico.

Poderia estar aqui questionando a situação do Oriente médio, o novo presidente dos EUA, a crise mundial. Mas, isto todos estão fazendo. Isto é inevitável pensar. Não são devaneios...são fatos!

Dentre minhas quimeras de férias poderia ainda falar sobre Maysa, sobre o BBB-9, sobre os Caminhos das Índias. Mas sobre as descobertas pessoais vejo mais sentido em dizer.

Dentre elas algo muito legal que me aconteceu há poucos dias.

Fui à casa de um amigo que há muito convidava a mim e alguns amigos para uma visita. Que a arte era seu forte não se tinha dúvida, mas que a música estava no seu interior com tanta força, isso foi sim uma grande descoberta.

Depois de exalar tanto “vapor barato” nos anos 70 em breve ele virá nos “dá – jaboticaba”. Entenderão em breve.

Uma de suas canções afirma algo que me coloquei, na verdade, a questionar: “O medo é o pai do silêncio”?

O quê dizer de:

“Por isso cuidado meu bem, há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal está fechado prá nós que somos jovens”

E ainda:

“Pelos campos a fome em grandes plantações,
Pelas ruas marchando indecisos cordões,
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão,
E acreditam nas flores vencendo o canhão,
Vem, vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”

E mais:

“O sol se reparte em crimes,
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou
Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor”

Ou:

“Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros. Juro!
Todo esse amor reprimido,
Esse grito contido,
Esse samba no escuro”

A marca de um tempo. Uma razão. Uma vontade. Uma necessidade. Apesar da repressão a união!

E hoje o que temos?

A “democracia” nos trouxe a banalidade cultural. O comodismo. Cadê os versos metrados e a composição cuidadosa de um Roberto daquela época – já que parece que até o “amor” do rei se rendeu ao comércio. A coragem, força e ousadia de um Chico, Milton, Gal, Tom Zé, Geraldo Vandré??

Temos liberdade de expressão, não menos motivos pra questionar, mas falta coragem? Preguiça de pensar?

E depois de tanta coisa boa feita lá nos idos da Ditadura, será que “o medo é o pai do silêncio”?

Amigos, estou aguardando ansiosa o “Dajaboticaba”! Produção independente e de ótima qualidade. Assim que ele chegar anuncio aqui. É o que muitos precisam ouvir: Qualidade!

3 comentários:

  1. Adorei seus devaneios...
    Sobre o presente e a democracia, digo que existem sim as pessoas que questionam tal comodismo, não sei quantas são, mas quanto mais eu caminho mais eu às encontro. Que levam a sério a responsabilidade que tem para com o mundo e sentem-se realmente mal quando dizem que "a Terra está morrendo", ou "piorou a situação da fome na Africa".
    Não sei se o medo é o pai do silêncio.
    Acho que sofremos de outro mal: A humanidade... desumanizou.
    O que você acha?

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  2. Pois é...tbm não acho que o medo seja pai do silêncio.
    Quanto ao mais?...acho que é bem por ai.
    Não gosto de respostas prontas, prefiro o "?" - Pensar é mais excitante.

    .

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  3. É bom tê-la de volta... ainda mais sabendo que vc voltou "para ficar". Achei interessante a sua relação com a obra de Machado de Assis. Quando eu fazi o ensino médio (faz tempo!!!), foi cobrada a leitura de Dom Casmurro... Achei uma chatice e até hoje não li até o fim... pelo que lembro. No entanto, após a leitura de "Memórias Póstumas..." e outras coisas do autor, tornei-se seu fã. Bem, fiquei curioso quanto às suas "diferenças" com Machado...

    Abraçose tudo de bom,

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